Como já explicamos por aqui, cultura é o conjunto de símbolos que um povo, um grupo ou uma comunidade usam para entender e interpretar o mundo. E que cada um desses grupos pode desenvolver uma cultura diferente. Mas não são só grupos distantes que têm essas diferenças: pessoas que vivem em um mesmo país ou de uma mesma comunidade também podem ter culturas diferentes.
Até existe uma cultura dominante, mas ela não é única dentro de um mesmo grupo de pessoas. É pensando nisso que hoje vamos falar sobre outros dois conceitos importantes: cultura popular e folclore.
É comum que uma sociedade tenha uma cultura de elite, a tal cultura dominante. E é importante pensar que elite não é só quem tem mais dinheiro. A elite cultural também pode contar com intelectuais, escritores, políticos, sacerdotes, jornalistas… enfim, quem tem poder de influenciar os símbolos, as ideias e as opiniões.
Na outra ponta disso, está a cultura popular. Ela é o conjunto de símbolos, hábitos, costumes e ideias que nascem fora da tal cultura dominante. São as histórias, as canções de roda, as brincadeiras de rua, as festas, os costumes religiosos e várias outras coisas que o povo vai criando e replicando.
Às vezes, esses dois níveis de cultura vão se enfrentar. Mas em muitos momentos eles convivem, com a de cima influenciando a de baixo e vice-versa.
Outro nome que se usa para falar de cultura popular é folclore. Segundo o Câmara Cascudo, talvez o maior pesquisador de folclore do Brasil, é o patrimônio de tradições, costumes e hábitos transmitidos pelos meios orais e que fazem parte do dia a dia de um povo.
Hoje o termo folclore é um pouco polêmico. Quando ele surge, lá no século 19, era um campo de estudos criado pela elite, que descobriu um mundo novo estudando os costumes do povo. Os estudiosos da época não se entendiam como parte desse mesmo povo, achavam tudo muito diferente e exótico. Viam os artesãos, camponeses e outros trabalhadores como pessoas sem conhecimento, cheias de superstições, e sem a capacidade de preservarem o seu próprio patrimônio. Por isso era preciso preservar essa cultura, "já que o povo não tinha a capacidade de fazer isso sozinho". E essa visão é considerada bastante preconceituosa.
Para sair um pouco dessa "má fama" que o folclore ganhou, surge o termo cultura popular, que tenta ser mais abrangente e deixar de lado esses preconceitos que os primeiros folcloristas possuíam. Isso também abre mais o leque para pensar muitos outros elementos, além daqueles que são transmitidos só pela fala. A literatura de cordel, por exemplo, é um grande produto da cultura popular.
Assim, podemos dizer que a mitologia e o folclore podem ser considerados parte desse grande campo, que é a cultura popular. Mas também precisamos lembrar que tudo isso, na verdade, são só nomes para separar e criar sistemas que ajudam a explicar e estudar melhor essa grande mãe que chamamos de cultura.
Referências
"Cultura Popular na Idade Moderna" - Peter Burke
"Dicionário de Folclore Brasileiro" - Câmara Cascudo
"Cultura Popular: as construções de um conceito na construção historiográfica"- Petrônio Domingues
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