Se durante o governo do Dom Pedro II o Brasil teve uma celebridade, ela foi Juca Rosa. Chamado pela imprensa de feiticeiro e chefe de um culto, na verdade era um dos líderes religiosos negros mais importantes do país no século 19.
Juca nasceu José Sebastião Rosa, em 1832, filho de Joana Maria Rosa, uma mulher africana. Em 1860 já praticava a "feitiçaria", que hoje entendemos ser um tipo sincretismo de elementos africanos e europeus, mais um dos muitos rituais ancestrais que ajudaram a configurar a Umbanda. Naquela época, os trabalhos de Juca eram ainda muito próximos do que se fazia na África Ocidental, além dele ter aprendido o ofício dos pais de santo da Bahia. Mas apesar de todas essas ligações, também fazia os sacramentos católicos, seja pela crença ou para usar isso a seu favor.
Se casar e batizar o filho não foi o suficiente: Rosa foi processado em 1870. Como durante a monarquia feitiçaria não era um crime, deram de enquadrá-lo como estelionatário, dizendo que, com seus feitiços e com sua lábia, enganou uma série de mulheres que eram parte da sua clientela. Juca foi condenado em 1871 e ficou seis anos preso.
Mas o real motivo do processo contra Pai Quilombo não foi exatamente proteger as senhoras da corte. Naquela época a Abolição dos escravizados, que iria acontecer em 1888, já era dada como certa. A Corte precisava cortar o poder e a influência de uma pessoa negra antes que fosse muito perigoso e ajudasse a campanha para a libertação. E mesmo assim não conseguiram apagar a importância do pai de santo. Até muitos anos depois da sua morte, ele ainda era lembrado como o grande feiticeiro negro do Rio de Janeiro.
__Referência: a tese da Dra. Gabriela Sampaio, "A História do Feiticeiro Juca Rosa: cultura e relações sociais no Rio de Janeiro imperial".
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